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No mercado global há perspectivas de incremento da produção de carnes

Oportunidade de expansão 

Aumento populacional, êxodo rural e elevação de renda são apostas para um incremento de 55 milhões de toneladas na produção mundial até 2020.

Em dez anos terão que ser produzidos 55 milhões de toneladas a mais de carne no mundo, entre as de aves, bovinos e suínos, para atender a elevação de demanda pela proteína. Estimativa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) aponta que a produção mundial de 270,41 milhões de toneladas, relativa a 2010, deverá saltar para 323,83 milhões de toneladas em 2020. Desse montante esperado, 31,18 milhões de toneladas deverão ser geradas no Brasil, sendo 11,35 milhões de toneladas de carne bovina. O incremento no consumo seria motivado pelo crescimento populacional, êxodo rural e aumento da classe C.

Se confirmado, o salto de produção de carne bovina no Brasil em dez anos será de 23,9%. Montante menor do que o incremento registrado entre 2001 e 2011, quando a produção nacional saiu de 6,8 milhões de toneladas equivalente carcaça para 9,1 milhões de toneladas, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) e Bigma Consultoria. O País é o segundo maior em produção de carne bovina, com quase 15% de participação na produção mundial, que em 2011 foi estimada em 62,4 milhões de toneladas de carcaça pela FAO.

Para alcançar o crescimento projetado pela FAO, o consultor Luciano Roppa revela que nenhum setor de carne deverá crescer menos que 2% ao ano, montante, que, segundo ele, tem sido a taxa de crescimento na pecuária brasileira. “Esta será a década da bovinocultura de leite e de corte e nossa responsabilidade é trazer o que tem no mundo de tecnologia para ser adaptado pelo produtor”, disse Roppa no evento de apresentação da etapa em Goiânia do Circuito Feicorte NFT 2012, realizado dias 18 e 19 de abril.

Um dos palestrantes do evento, Roppa destacou que a produção de carnes mundial vive um momento “muito interessante” influenciado especialmente pelo aumento populacional, êxodo rural e aumento de renda. Ele lembra que nascem 180 mil pessoas por dia, sendo grande parte na Ásia e na África. O consultor informa ser esperado que um bilhão a mais de pessoas esteja morando em cidades nos próximos anos. “É um impacto importante porque quando está no campo ainda se produz algo.”

Nos países desenvolvidos o consumo médio de carne (ave, suíno e bovino) por habitante é de 80 quilos ao ano e nos países em desenvolvimento, 32 quilos. A média mundial de consumo da proteína é de 40 quilos por habitante ao ano e, segundo o consultor, a perspectiva é crescer 20% na próxima década, chegando a 48 quilos por habitante. Ele avalia que grande parte desse crescimento será na Ásia e na África. “Vai aumentar a população, mas principalmente vai aumentar o poder aquisitivo e vai ter mais classe média consumidora nos países asiáticos, que vão crescer em quantidade e também em poder aquisitivo.” O analista destaca que mesmo com as crises financeiras a grande maioria dos países da Ásia cresce mais que 7% ao ano. Além disso, aponta haver hoje 1,8 bilhão de pessoas na classe média e diz ser esperado que em dez anos esse número passe para 3,2 milhões.

Mesmo com a maior produção esperada, o preço não deve cair para o consumidor. Roppa explica que enquanto em outras áreas se tem, por exemplo, um computador, que antigamente custava caro e com o passar dos anos foi ficando extremamente barato, com as carnes é exatamente o oposto. “As carnes eram mais baratas no passado, estão mais caras hoje e serão mais daqui a dez anos.” Segundo ele, o aumento do preço da carne é mundial, influenciado pela elevação do custo da produção. O consultor informa que a perspectiva da FAO para os próximos dez anos é de um aumento de preço de todas as carnes. Roppa pontua que o preço internacional ao produtor também é crescente, mas os custos acompanham porque parte do milho e da soja está sendo destinada à produção de biocombustíveis. “Temos que buscar matérias-primas alternativas ao milho e a soja para baratear o custo da alimentação e com isso aumentar a nossa margem porque o preço do nosso produto está subindo.”

De acordo com o consultor, como a cultura no Brasil é produzir alimentação para suínos, bovinos e aves baseada num binômio milho e soja, os produtores brasileiros foram seriamente afetados com o aumento de custo desses grãos, assim como os Estados Unidos, que também os utilizam, em especial a partir de 2008. Conforme ele, o que tem que se discutir é alternativas alimentares a esses produtos. “Porque temos dezenas de subprodutos, triguilho, triticale, cana, polpa cítrica, cevada, enfim, milhares de alternativas que vamos ter que aprender a usar. Era muito fácil sentar e comprar milho e soja”, argumenta.

O consultor destaca que Goiás é um estado produtor de matérias-primas alternativas, assim como Mato Grosso e diz que os dois apresentam boas condições para crescer. “Em Goiás se tem tradição de produção, clima adequado, matérias-primas alternativas, a base para a produção, coisas que algumas regiões começam a ter dificuldade ou não têm”, avalia.

Pressão para reduzir a idade de abate dos bois
O consultor Luciano Roppa explica que atualmente a idade média de abate é de 3 anos e meio e que é necessário reduzi-la para 2 anos. “Existe uma pressão mundial para redução de metano, CO² (dióxido de carbono) e com todos esses problemas de sustentabilidade é preciso reduzir a idade de abate”, argumenta. Uns dos caminhos seria o confinamento, segundo ele. Hoje, dos 205 milhões de cabeças de gado no Brasil, ele diz que apenas 3,5 milhões delas são confinados. Em Goiás, de acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mario Schreiner, 40% do rebanho de corte são confinados, o equivalente a quase um milhão de cabeças.

Roppa pontua que 65% do custo de confinamento são com a compra do animal, 25% alimentação e 10% mão de obra, impostos, fretes e sanidade. Ele diz ser possível reduzir de 5% a 8% o custo com a alimentação se for adotada a nutrição de precisão. “Isso vai ser lucro, vai sobrar para o produtor.”

O consultor informa que a nutrição de precisão é a agricultura de precisão adaptada ao sistema do confinamento e afirma que o Brasil ainda precisa evoluir nesse item. Segundo Roppa, um exemplo clássico é quando ao definir uma fórmula o produtor sabe que o animal pode consumir 16% de proteína, mas a faz com 17% por causa do desperdício, ou por outro motivo. “Sempre joga um pouquinho a mais, e na verdade a nutrição de precisão é fazer exatamente a quantidade certa para aquele lote de animais, no momento certo e na hora certa, com isso se reduz muito o custo de alimentação.”

Para Roppa, hoje o mercado, no geral, compra carne sem fazer a diferenciação entre a que vem de criação a pasto ou de confinamento. Mas ele ressalta que as grandes empresas já começam a diferenciar os produtos e a criar marcas, como a da carne angus, por exemplo. “O importante é que quando se diminui a idade do animal a carne fica mais macia.” Roppa ilustra que um animal de três anos terá a carne normalmente mais dura do que um de dois anos. “Por este ser mais jovem, andou menos e a musculatura é mais macia.” O consultor acrescenta que na área de genética também se busca alcançar carne de melhor textura, composição de gordura e qualidade. Schreiner, da Faeg, avalia que a agropecuária pode ser o setor que mais absorve tecnologia. Na pecuária o presidente aponta que um boi antes abatido aos 5 anos hoje pode estar pronto para abate, com a mesma produtividade, em um ano e meio. Roppa pondera que uma etapa a ser vencida no setor é mostrar, por exemplo, que a carne foi produzida com um animal de 2 anos, é mais macia, e assim poder cobrar um valor a mais por esse prêmio.

Bonificação por qualidade varia entre 4% e 6%

De olho no mercado gourmet nobre, o Grupo Marfrig mantém desde 2008 um programa de fomento para produtores da raça angus, que é reconhecida pela qualidade de sua carne. Os produtores parceiros recebem capital em forma de adiantamento financeiro da indústria para custear a introdução de tecnologia reprodutiva no rebanho, que chega por meio de inseminação artificial em matrizes zebu de sêmen de touro angus, preferencialmente com a técnica por tempo fixo (IATF). O gerente nacional de fomento e coordenador do Programa Fomento Angus Marfrig, Luciano Andrade, explica que depois que o bezerro nasce o Marfrig acompanha todo o processo e oferece a possibilidade para o pecuarista comercializar o animal em diferentes categorias – bezerro, novilha e animais terminados. Ele revela haver um procedimento definido para ser seguido nos confinamentos do grupo para garantir peso e gordura desejáveis nos animais que o frigorífico compra antes de estarem na categoria terminada. “Tudo isso para que se consiga atingir uma carcaça que será certificada e que chegará ao consumidor com garantia de qualidade superior ao que se encontra no mercado”, aponta.

Quando o Programa Fomento Angus Marfrig surgiu a expectativa era ter entre 5 mil e 8 mil vacas em contrato no primeiro ano, e alcançaram 20 mil matrizes. Em 2009 aumentou para 40 mil, em 2010 para 80 mil e no quarto ano, correspondente ao ciclo 2011-12, o Marfrig espera fechar a estação de inseminação com mais cem mil matrizes. O contrato é renovado a cada estação de monta. O índice de renovação contratual está acima de 90%, chegando a 100% em Goiás, Estado onde a parceria nasceu a partir do município de Mineiros. Segundo Andrade, 65% de todas as matrizes em contrato atualmente são de Goiás. O produtor participante recebe até 6% a mais pela carcaça como premiação. A empresa ainda oferece bonificações por meio de outros programas, como o do nelore natural, por meio do qual pagam até 4% a mais pela carcaça que atende as expectativas de peso e de acabamento de gordura, por exemplo.

Circuitos Feicorte

Goiânia recebeu a terceira etapa do Circuito Feicorte NFT 2012 nos dias 18 e 19 de abril. Antes de chegar à capital goiana, o evento, que reúne uma programação de palestras integrada a uma feira de negócios, havia sido realizado em Cuiabá (MT) e Salvador (BA). Somadas as três etapas, foram cerca de 3 mil participantes que representam 15 milhões de cabeças de gado segundo a organização.

Realizado pela Feicorte em parceria com a NFT Alliance (aliança de marketing cooperativado do agronegócio) os circuitos regionais ocorreram neste ano pela primeira vez. Em Goiás a etapa teve o apoio da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) e da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Irrigação do Estado de Goiás (Seagro). O próximo circuito será realizado em Campo Grande (MS) nos dias 22 e 23 de maio. As atividades se encerram em São Paulo, na Feicorte, de 11 a 15 de junho.

Fonte: http://www.revistasafra.com.br/




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